domingo, 11 de setembro de 2011

RESPOSTA A UMA ADVOGADA QUE PENSA SER DEUS

Eu, estudante do 6º período de arquivologia pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, pesquisando na Internet sobre o tema "Marketing em Arquivos", me deparei com uma exposição em Power Point que me chamou bastante a atenção, não por que a exposição fosse exatamente o que eu procurava, mas justamente por ser o que eu, absolutamente, não porcurava.
Calma, eu explico, o fato é que a pessoa que elaborou os slides, que penso eu ser uma advogada, trata do arquivo e do profissional que aí atua como seus servos fieis e somente a eles devem se dedicar, como Deuses em seus pedestais, toda devoção e toda sua energia empregada como força de trabalho.

CLIQUE AQUI e veja a apresentação na íntegra.

SLIDE CAPA DA APRESENTAÇÃO EM POWER POINT

Agora leia na íntegra um email que enviei como resposta à senhora Roseli Miranda, através do endereço eletrônnico disponibilizado na contra-capa da própria exposição: 

"Sra. Roseli Miranda.
Fazendo uma busca na internet acerca de marketing em arquivos, me deparei com uma apresentação denominada “ARQUIVOS JURÍDICOS COMO UNIDADES DE INFORMAÇÃO: UMA QUESTÃO DE MARKETING ?”  que no final aparece o email roseli.miranda@unibanco.com.br para contato. Pois bem, verificando os pontos abordados nos slides, observei que a Sra. fala bastante como grande conhecedora de ambientes gestores de fluxos informacionais ou, simplesmente, arquivos.
Na verdade, observando o disposto nos slides nº 13 e 14, que respectivamente abordam o “FOCO NO CLIENTE” onde se diz que “O atual ambiente organizacional exige uma administração mais eficiente e criativa do Arquivo, capaz de antecipar às necessidades do advogado, em vez de simplesmente reagir a elas” e o “RELACIONAMENTO COM O CLIENTE” onde são apontados os “Problemas mais freqüentes:” enumerados assim: “Demora na localização dos documentos; Extravio da documentação entregue; Falta de padronização e procedimentos; Falta de metodologia de arquivamento; Incompreensão do colaborador do Arquivo sobre a necessidade (urgência) do advogado e Inexistência de parceria” gostaria de indagá-la sobre qual a formação do “colaborador” que atua no arquivo da instituição referida na apresentação?

Realmente, esses são problemas freqüentes na maioria das instituições, mas sabe por quê? Porque, geralmente, elas não têm conhecimento acerca da necessidade de gerir seu fluxo informacional de forma a poder recuperar qualquer informação em tempo hábil para agilizar o processo de tomada de decisão seja em qualquer departamento de uma organização, independente de ser jurídico, administrativo ou operacional.

Gostaria de informá-la que existe profissional devidamente capacitado para essa função, treinado para atuar de forma a sanar esses problemas apontados na sua exposição. Esse “colaborador” é o ARQUIVISTA, que tem o exercício profissional regulamentado sob a Lei nº 6.546, de 04 de julho de 1978, que dispõe sobre a regulamentação das profissões de Arquivista e de Técnico de Arquivo, e dá outras providências, fazendo um trabalho voltado para o fluxo informacional produzido e recebido por uma instituição.

Ainda sobre o tema RELACIONAMENTO COM O CLIENTE” no slide nº 16, a senhora aponta que O advogado é a pessoa mais importante no negócio jurídico é em torno dele que tudo acontece; Atender um cliente é uma honra, jamais um favor; Os advogados trazem suas necessidades, o trabalho do Arquivo é satisfazê-las; O advogado merece o tratamento mais atencioso que o Arquivo possa oferecer; O advogado não depende do Arquivo, é o Arquivo que depende dele”.

Sobre o fato de ser o advogado a pessoa mais importante no negócio jurídico, concordo com sua observação, porém paremos por aí. Lembre-se que o advogado no ambiente organizacional é também um colaborador e, como tal, deve ser visto por todos os outros colaboradores como um parceiro e não como um Deus, um ser supremo que está acima de todos os limites humanos como suscitado na sua exposição! Os advogados trazem sim suas necessidades e devem ser satisfeitas, mas não por ser advogado ou qualquer outro profissional, mas porque a instituição, a qual servem o arquivista e o advogado, cujos interesses são superiores aos dois, necessita que o advogado exerça suas competências legais em favor da mesma. O trabalho do arquivista não é satisfazer a interesses de advogados, é fazer um tratamento documental voltado para as “necessidades da instituição” a qual serve, além do que o advogado merece sim tratamento tão atencioso quanto o administrador, o chefe de setor pessoal, o contador, o tesoureiro, o zelador, o faxineiro, o jardineiro e qualquer outro colaborador da instituição independente da sua formação profissional, do cargo que exerça ou qualquer outra condição externa ao ambiente organizacional.

Agora, sinto desapontá-la, nunca o arquivo de qualquer instituição pública ou privada dependeu de advogado nem nunca poderia depender. Agora, se o advogado não depende do arquivo, por que a senhora perdeu tanto tempo elaborando essa sua exposição? Ora, então não vá ao arquivo já que a senhora não depende dele!

Lanço-lhe aqui o desafio: já que a senhora, como, suponho ser advogada, não depende do arquivo, não vá mais até ele e vejamos qual dos dois terá as suas atividades prejudicadas, deixará de atuar como necessita a instituição e provavelmente ficará inerte. Verifiquemos se assim ele (o arquivo) deixará de existir, já que é tão dependente da senhora.

O arquivo existe independentemente da existência ou inexistência de advogados, ele é o lugar onde se condensam as informações produzidas e recebidas pela instituição. A partir dele é que é possível recuperar qualquer informação orgânica da instituição à qual serve, mas para isso é preciso que todos os envolvidos no processo administrativo das organizações estejam conscientes e atualizados com a necessidade de gestão da informação para a consecução de atividades administrativas e operacionais eficientes e eficazes.   

Para finalizar, gostaria de lamentar as infelizes observações feitas nas suas ”CONCLUSÕES”, onde a senhora diz que É preciso investir permanentemente na satisfação do advogado e fazer disso a principal meta do Arquivo e a melhor estratégia é ouvi-lo de forma ativa; Sempre é possível saber mais e neste caso o marketing de relacionamento é uma ferramenta extremamente eficaz, porque valoriza a postura do ganha-ganha, onde ambos os lados saem lucrando e gera a fidelidade e o relacionamento a longo prazo.
Da forma como a senhora coloca, parece que o universo gira em torno do advogado e que só ele deve ser satisfeito em detrimento do resto da humanidade. Definir a meta principal do arquivo na satisfação do advogado chega a ser hilário, perdoe-me, mas não consigo conter o riso. O ganha-ganha ao qual a senhora se refere, pelo que percebo, na sua ótica é, na verdade, o dá-ganha, onde o profissional do arquivo sempre lhe serve (dá)  e a senhora sempre ganha e o lucro do arquivista seria ficar feliz porque conseguiu ser servo fiel de um advogado.
Acho que a única coisa que senti falta, na verdade na sua exposição é o fato de não se ter mencionado uma oração em devoção aos advogados. Gostaria que fosse informado onde se tem uma congregação que venere esse profissional, afinal, pode ser que alguém queira se tornar membro da ADVOGADOLATRIA, creio que seja esse o termo que eu, como futuro arquivista, deva utilizar para a veneração das vossas santidades."